OPAS relata que em 2017 foram registrados 4.239 novos casos de LV no Brasil, o que representa um aumento regional de 26,4% quando comparado a 2016.
Comumente chamado de Mosquito-palha, o artropode na verdade é um flebótomos (pequenas moscas), é o transmissor da leishmaniose | Foto: Prefeirura S. Paulo
O número de casos de leishmaniose visceral (LV) vem aumentando gradativamente no Brasil. A doença, que afeta tanto humanos quanto cães, apresentou uma elevação na taxa de letalidade de 3% para 7% entre 2000 e 2012. Essa enfermidade, causada pelo parasita Leishmania infantum, ataca principalmente órgãos internos.
Segundo uma nota da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a leishmaniose visceral (LV) é uma doença sistêmica grave que, se não diagnosticada e tratada, pode ser fatal. Nas Américas, a LV é endêmica em 12 países e, no período de 2001-2017, foram registrados 59.769 novos casos, resultando em uma média de 3.516 casos por ano. Cerca de 96% (57.582) dos casos foram reportados pelo Brasil. Somente em 2017, foram registrados 4.239 novos casos de LV, o que representa um aumento regional de 26,4% quando comparado a 2016, devido ao aumento de 28% dos casos no Brasil.
O Leishmania infantum é transmitido aos humanos através das picadas de fêmeas do flebótomo (pequenas moscas com atividade hematófaga (que se alimenta de sangue)), um artrópode popularmente chamado de mosquito-palha, ou como tatuquira. Esses insetos atuam como vetores da zoonose, transmitindo o parasita de cães infectados para seres humanos. A infecção pode levar a sérias complicações, afetando órgãos como o baço, fígado, medula óssea e linfonodos, resultando em hepatoesplenomegalia (aumento do baço e do fígado) e febre.
O tratamento da leishmaniose visceral no Brasil é fornecido pelo Ministério da Saúde através do Sistema Único de Saúde (SUS), e inclui dois medicamentos principais: Anfotericina B e Antimonial Pentavalente. Estes medicamentos são essenciais para combater a doença, mas não estão disponíveis para venda em farmácias, sendo oferecidos apenas para casos com diagnóstico confirmado.
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Para solicitar diagnóstico e tratamento através do SUS, o usuário deve se cadastrar no Sistema de Gerenciamento de Ambiente Laboratorial (GAL). Esse serviço pode ser solicitado por diversas instituições de saúde. O cadastro no Sistema GAL deve ser feito entrando em contato com o ambulatório por telefone ou e-mail.
O Ministério da Saúde informa que "apesar de grave, a Leishmaniose Visceral tem tratamento para os humanos. Ele é gratuito e está disponível na rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Os medicamentos utilizados atualmente para tratar a LV não eliminam por completo o parasito nas pessoas e nos cães. No entanto, no Brasil, o homem não tem importância como reservatório, ao contrário do cão - que é o principal reservatório do parasito em área urbana".
Importância da vacinação de cães
Atualmente, não existem vacinas para humanos contra a leishmaniose visceral. Contudo, o Brasil dispõe de uma vacina para cães, e uma vacina europeia também está disponível para proteger os animais, ajudando a reduzir a transmissão da doença.
A urbanização da doença tornou o combate mais complexo; o uso de inseticidas nas residências se tornou uma medida muito cara e cada vez menos eficaz devido à resistência crescente dos insetos. Além disso, a prática de sacrifício de cães infectados gerou controvérsias e foi substituída pelo uso de coleiras impregnadas com deltametrina, um inseticida que, além de repelir, também elimina os mosquitos.
As coleiras impregnadas com deltametrina têm mostrado eficácia na prevenção da leishmaniose canina e, por conseguinte, na redução da transmissão para humanos. No entanto, a manutenção das coleiras, que deve ser realizada a cada seis meses, representa um desafio adicional.
Brasil doa coleiras para a Bolívia
Recentemente, o governo brasileiro doou mais de 10 mil coleiras para a Bolívia, país vizinho que enfrenta um surto de leishmaniose visceral. Esta ação visa não apenas ajudar a Bolívia a controlar a doença, mas também proteger as áreas fronteiriças do Brasil, onde a infecção pode se espalhar.
O especialista José Angelo Lauletta Lindoso, diretor científico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da USP, destacou ao Jornal da USP a importância dessas ações, afirmando que "a doação de coleiras é uma medida correta que pode ajudar a evitar que a contaminação chegue aos brasileiros, especialmente nas regiões próximas à fronteira."