Prevenção do suicídio expõe desafios de pessoas com doenças crônicas no Brasil
- Ciência Elementar

- 15 de set.
- 2 min de leitura
Mais de 88% dos pacientes com doenças crônicas relatam agravamento da saúde mental, 71% apresentam tristeza e 39% tiveram pensamentos suicidas.

Por Ivana Andrade,
Psicóloga e ativista pelos direitos de pacientes com Síndrome da Fadiga Crônica.
O Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, celebrado em 10 de setembro, foi instituído pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) e conta com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), conforme destacado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). A data chama atenção para a necessidade de prevenção e conscientização, que também envolve doenças crônicas e debilitantes, como a Síndrome da Fadiga Crônica (EM/SFC).
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A relação entre a doença e o risco de suicídio é destacada em diferentes pesquisas. Um estudo publicado em 2021, liderado por Lily Chu, aponta que a ausência de tratamentos eficazes, as limitações físicas severas e o preconceito que associa a condição à “preguiça” ou a problemas psicológicos favorecem sentimentos de desesperança entre pacientes com EM/SFC. Outra pesquisa, conduzida por Rahel Susanne König e colaboradores – publicada em 2024 - mostrou que 90,5% dos entrevistados não se sentem compreendidos em relação à doença, o que leva muitos ao silêncio por receio de descrédito ou reações negativas. O mesmo estudo indicou que 88,2% relataram agravamento da saúde mental, com elevados índices de tristeza (71%) e desesperança (66,9%). Além disso, 39,3% afirmaram ter tido pensamentos suicidas e 14,8% desenvolveram depressão secundária.
No Brasil, a falta de protocolos de diretrizes, de formação de profissionais de saúde, de diagnóstico e de políticas públicas específicas para a Síndrome da Fadiga Crônica é apontada como uma lacuna. Em 2023, foi sancionada a Lei 14.705, conhecida como Lei da Fibromialgia, que também inclui a Síndrome da Fadiga Crônica, a Dor Complexa Regional e doenças correlatas. No entanto, o texto da lei estabelece que a relação de exames, medicamentos e modalidades terapêuticas deve ser definida em regulamento, o que mantém parte das doenças sem acesso efetivo às medidas previstas. A própria denominação da lei é vista como indicativo da falta de inclusão da Síndrome da Fadiga Crônica.
Tentativas de articulação junto ao governo foram relatadas por pessoas ligadas ao tema. Entre elas estão a abertura de um banner no Palácio do Planalto pedindo socorro ao presidente, reuniões com o Ministério da Ciência e Tecnologia que não resultaram em encaminhamentos, encontro com a ministra da Saúde que prometeu transformar o Hospital São Paulo no primeiro departamento especializado no assunto e uma manifestação com mais de 950 pares de sapatos na Esplanada dos Ministérios, simbolizando pacientes impossibilitados de comparecer devido à gravidade da doença. Mesmo assim, a percepção é de que o tema segue sem avanços concretos.
Diante desse cenário, a reflexão levantada é sobre o impacto do silêncio estatal. A pergunta que permanece é: “Quantas vidas pagarão pelo silêncio do Estado diante da sua obrigação?” Busque ajuda nos canais: 188 CVV (Centro de Valorização da Vida - Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) - Unidades Básicas de Saúde (UBS)








