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Ridge A: lugar hostil que reúne as condições atmosféricas perfeitas para observações astronômicas

Nenhum ser humano jamais visitou o local devido às circunstâncias extremas, que pode apresentar temperaturas que podem chegar a -100°C. Com isso, qualquer observação só pode ser realizada remotamente.

Cordilheira A é um local no Território Antártico Australiano | Foto: Google Earth

No vasto e congelado planalto antártico, Ridge A se destaca como uma elevação isolada e imensamente inóspita. Descoberto em 2009 como o local ideal para pesquisas astronômicas, Ridge A é notável por suas condições atmosféricas de extrema estabilidade, com quase nenhuma umidade ou turbulência. Localizado a cerca de 1.000 km do Polo Sul e a 144 km de Dome A, no Território Antártico Australiano, Ridge A (ou Cordilheira A) é o ponto mais frio da Terra, com uma altitude de 4.053 metros e uma temperatura média de inverno de -70°C, podendo alcançar impressionantes -100°C, um território inexplorado por seres humanos.

Embora nenhum ser humano tenha pisado em Ridge A, estudos comprovam que as condições extremas podem afetar tanto seres humanos quanto equipamentos, provocando choques elétricos devido ao ar seco. Apesar dos desafios, a região é relativamente acessível por via aérea, o que a torna um local promissor para a instalação de telescópios potentes, apesar das dificuldades operacionais.

Em 2010, cientistas descobriram temperaturas recordes de até -92°C no Planalto Antártico Oriental, em cavidades entre Dome Argus e Dome Fuji. A descoberta, feita com base em 32 anos de dados de satélites com sensores térmicos, superou a mínima anterior registrada na Antártida. O satélite Landsat 8 foi essencial para localizar esses pontos com mais precisão. As temperaturas caem drasticamente quando o céu permanece claro por dias, permitindo que o solo perca calor e o ar super-resfriado se acumule em cavidades, criando bolsões de frio extremo. Além disso, o Landsat 8 possibilita o estudo de mudanças climáticas e detecta as áreas mais frias do planeta, sendo um recurso valioso para pesquisas ambientais. Clique e siga Ciência Elementar no Instagram 

Ridge A está sob a jurisdição do Tratado da Antártida, em vigor desde 1961, que regula o uso pacífico e científico do continente. Esse tratado, que abrange todas as áreas ao sul da latitude 60°S, reúne 57 países comprometidos com a preservação e cooperação científica na Antártida. O Brasil aderiu ao tratado em 1975 e, desde 1983, é uma Parte Consultiva, participando das decisões sobre a administração do continente. O Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) garante a presença científica do país na região.

A área foi descoberta por uma equipe de cientistas australianos e americanos que buscavam o local ideal para um observatório astronômico. Ridge A possui claridade excepcional, praticamente sem nuvens, com umidade próxima de zero, ventos inexistentes e uma camada limite atmosférica estável. O local, conhecido como o "Olho da Tempestade", apresenta condições ideais para telescópios de alta precisão, capazes de capturar imagens três vezes mais nítidas do que outros observatórios terrestres.

Devido a essas condições, China e Austrália negociaram um projeto conjunto para construir um observatório no local, mas o plano não foi executado. Ridge A é descrito como o ponto da Terra com as condições mais próximas do espaço exterior e continua sendo de grande interesse para a astronomia, apesar de sua natureza inóspita. Qualquer observatório precisaria ser construído por meio de máquinas e operado remotamente, já que as condições extremas impossibilitam a presença humana constante.

Foi assim que, em 2012, foi instalado o observatório High Elevation Antarctic Terahertz (HEAT), fruto de uma parceria entre a Universidade do Arizona e a Universidade de New South Wales. Operado remotamente, o telescópio de 60 cm mapeia espectros da Via Láctea em frequências entre 0,5 e 2 THz, focando na formação estelar. Ele permite a observação de comprimentos de onda de luz que raramente atravessam a atmosfera em outras partes do planeta, avançando o conhecimento sobre a formação de nuvens interestelares e a evolução da nossa galáxia.

Embora a China não possua instalações em Ridge A, o país inaugurou neste ano a Estação Qinling, sua quinta estrutura na Antártica, para avançar na pesquisa científica do continente. Situada na região do Mar de Ross, a estação acomoda até 80 pessoas no verão e 30 no inverno. Equipada com tecnologias avançadas e um laboratório marinho de padrão internacional, a estação realiza monitoramento contínuo e usa energias renováveis para sua operação. A nova estação preenche uma lacuna na pesquisa chinesa, focando em oceanografia, ciência atmosférica, glaciologia e mudanças climáticas. Ela integra as estações Changcheng, Zhongshan e Qinling, que cobrem os setores do Atlântico, Índico e Pacífico, respectivamente

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