top of page

Entendendo a dinâmica dos terremotos e suas características

Milhões de terremotos ocorrem anualmente no mundo. Aproximadamente 100 tremores de baixa intensidade, com magnitudes inferiores a 2,5, são registrados diariamente.

Estragos causados pelo terremoto perto de Anamizu, Japão, 3 de janeiro de 2024 | Foto: © Reuters


Terremotos são fenômenos geológicos causados pelo movimento das placas tectônicas que formam a crosta terrestre. O USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos) estima que milhões de terremotos ocorrem no mundo a cada ano, embora a maioria não seja detectada por acontecer em áreas remotas, ter baixa magnitude ou pela ausência de equipamentos de medição nas proximidades. Cerca de 100 tremores de baixa intensidade, com magnitudes inferiores a 2,5, ocorrem diariamente. O número de sismos registrados tem aumentado à medida que mais estações sísmicas são instaladas e os instrumentos se tornam mais sensíveis, permitindo a detecção de eventos menores que antes passavam despercebidos.

Quando ocorrem em regiões costeiras, os terremos podem desencadear tsnamis. De acordo com NOAA, "um tsunami é uma série de ondas extremamente longas causadas por um deslocamento grande e repentino do oceano, geralmente o resultado de um terremoto abaixo ou perto do fundo do oceano. Essa força cria ondas que se irradiam para fora em todas as direções para longe de sua fonte, às vezes cruzando bacias oceânicas inteiras".


No Brasil, embora terremotos de grandes magnitudes sejam raros, entre 15 e 20 sismos são registrados por ano, com magnitudes próximas de 2,5 graus. No entanto, devido à limitada rede de estações sismográficas, muitos desses tremores, principalmente em regiões distantes, não são detectados. Se mais estações fossem instaladas, certamente mais sismos seriam detectados. Pelo fato de o país estar localizado no centro da Placa Sul-Americana, longe de seus limites ativos, esses eventos geralmente são intraplaca ou devido as falhas geológicas, e são de baixa a moderada intensidade, em contraste com os fortes terremotos que ocorrem nas bordas das placas tectônicas, como no Cinturão de Fogo do Pacífico, onde estão concentrados cerca de 75% da energia sísmica do planeta.


A crosta terrestre é composta por placas rígidas chamadas placas litosféricas, que contém rachaduras denominadas placas tectônicas que se movem contínua e lentamente sobre o manto, uma camada mais densa e plástica. Esse movimento é de apenas alguns centímetros por ano, mas as placas são massas colossais. Quando essas placas se chocam ou se afastam, a tensão acumulada nas rochas gera tremores e pode também resultar em uma ruptura chamada falha geológica. Nem todo movimento gera uma falha, mas todo movimento gera um terremoto. No Brasil, até a década de 1970, acreditava-se que apenas acomodações de camadas causavam terremotos. No entanto, descobriu-se que os sismos intraplaca também podem gerar tremores rasos, geralmente a profundidades de 30 a 40 km.

Falhas geológicas são rupturas ou cisões que ocorrem nas rochas ou na superfície terrestre devido às tensões acumuladas ao longo do tempo. Essas rupturas, ou falhas, resultam no deslocamento de blocos de rocha, o que pode liberar a energia armazenada e causar abalos sísmicos. No Brasil, o estudo das falhas ganhou relevância após o mapeamento neotectônico do país, conduzido pelo professor Allaoua Saadi, que identificou 48 falhas ou fissuras em todo o território, porém, podem haver muito mais. As regiões Sudeste e Nordeste concentram a maioria dessas falhas, enquanto a Região Sul é a menos afetada. A falha BR-47, localizada no norte de Minas Gerais, foi responsável pelo terremoto de 4,9 graus que atingiu Itacarambi em 2007, causando a primeira fatalidade por terremoto no Brasil.

O ponto no interior da Terra onde se inicia essa ruptura é chamado hipocentro, e a partir dele se propagam ondas sísmicas em todas as direções. As ondas sísmicas podem ser de dois tipos principais: as ondas primárias (P) e as ondas secundárias (S). As ondas P são mais rápidas e causam deformações de compressão e dilatação, enquanto as ondas S, mais lentas, causam deformações de cisalhamento, ou tangenciais. As ondas P podem se propagar tanto em sólidos quanto em líquidos, enquanto as ondas S só se propagam em meios sólidos. O som gerado pelo terremoto é transmitido através das ondas P. A velocidade dessas ondas aumenta com a densidade das rochas pelas quais passam, e as ondas P chegam antes que as ondas S, o que permite a detecção antecipada dos tremores.

O epicentro é o ponto da superfície terrestre diretamente acima do hipocentro, e é onde o terremoto é sentido com maior intensidade. Esse ponto é essencial para a população afetada, pois indica a localização do impacto mais forte do sismo, muitas vezes sendo próximo a cidades ou vilarejos. Quando um terremoto é de baixa intensidade, é chamado de abalo sísmico ou tremor de terra, mas sua origem e natureza são as mesmas de um terremoto mais forte, diferindo apenas na magnitude da ruptura e na área afetada.

A magnitude de um terremoto é medida pela Escala Richter, criada em 1935 por Charles Richter. A escala é logarítmica, o que significa que cada aumento de um grau representa um aumento de dez vezes na amplitude das vibrações e de 30 vezes na quantidade de energia liberada. Embora a mídia frequentemente afirme que a Escala Richter vai até 9, na verdade ela não tem limite superior ou inferior. Um abalo muito fraco pode inclusive ter magnitude negativa. Para medir com mais precisão a energia liberada por grandes terremotos, utiliza-se atualmente a Escala de Momento Sísmico. O maior terremoto já registrado, de acordo com essa escala, ocorreu no Chile, em 1960, com magnitude de 9,5.

Além da Escala Richter, a Escala Mercalli Modificada é utilizada para avaliar os efeitos de um terremoto em uma área específica, baseando-se em observações visuais dos danos causados e nos relatos das pessoas que sentiram o sismo. Essa escala é útil para terremotos antigos, quando não havia estações sismográficas, pois permite avaliar a intensidade de um evento com base em registros históricos. A escala Mercalli mede a aceleração do solo, que dobra a cada grau, mas é menos precisa que a Escala Richter por depender de descrições subjetivas.

O Brasil tem registrado alguns terremotos significativos ao longo de sua história. O maior terremoto já registrado no país ocorreu em 1955, com epicentro 370 km ao norte de Cuiabá (MT), e atingiu magnitude de 6,2. Em 1980, um terremoto de magnitude 5,2 foi sentido em grande parte do Nordeste, causando desabamentos parciais em Pacajus (CE). Em 1994, Porto Alegre foi atingida por ondas sísmicas geradas por um terremoto na Bolívia, a 2,2 mil quilômetros de distância. O sismo teve magnitude de 7,8, mas, devido à profundidade do hipocentro, localizado a 600 km abaixo da superfície, os efeitos foram moderados, sendo classificados como intensidade IV na Escala Mercalli.

Os terremotos são registrados e estudados em estações sismográficas, onde sismômetros medem os tremores e sismógrafos registram suas ondas em um sismograma, desenhado por uma agulha em papel, que se move em zigue-zague conforme as ondas sísmicas são detectadas. Essas medições são essenciais para o estudo dos terremotos, permitindo aos cientistas entender a dinâmica da crosta terrestre e monitorar áreas propensas a abalos sísmicos.

Apesar de o Brasil não enfrentar terremotos devastadores como os registrados no Chile ou em países do Cinturão de Fogo, terremotos com magnitude acima de 7,0 podem ocorrer uma vez a cada 500 anos. Em contraste, no Chile, eventos dessa magnitude ocorrem a cada três anos Esse panorama mostra que, embora o Brasil esteja em uma região menos suscetível a grandes terremotos, o país não está imune a abalos sísmicos. A melhoria das redes de monitoramento e o estudo das falhas geológicas revelam que sismos menores são mais frequentes do que se pensava, e é importante continuar o acompanhamento para entender os riscos sísmicos em território brasileiro.

bottom of page