Dados recentes do CRMV-RJ aponta que entre 2010 e 2020, cerca de 6,5 milhões de carcaças de bovinos foram identificadas com cisticercose no Brasil.
Tomografia de crânio mostrando multiplas lesões calcificadas de neurocisticercose Taenia solium | Imagem: Dra Maila Murad Balduino
Um estudo recente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) revelou que casos de cisticercose tem aumentado no Brasil, gerando preocupação entre as autoridades de saúde pública e no setor pecuário.
A cisticercose, uma infecção parasitária que pode afetar tanto humanos quanto bovinos, é causada pela ingestão de ovos de tênia, como a Taenia solium em humanos e a Taenia saginata em bovinos. Esses ovos podem se desenvolver em larvas que se alojam em diferentes tecidos do corpo humano, como o cérebro, músculos e olhos, causando uma variedade de sintomas, desde dores de cabeça e convulsões até problemas de visão e dores musculares.
O estudo revela que “o encontro frequente de larvas de Taenia sp., denominadas cisticercos, em carcaças, durante o exame de inspeção após o abate em frigoríficos de bovinos, tem sido alarmante”.
Em um comunicado do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) aponta que entre 2010 e 2020, cerca de 6,5 milhões de carcaças de bovinos foram identificadas com cisticercose no Brasil, correspondendo a aproximadamente 1.500 animais por dia, o que representa um problema constante para os produtores. Os estados do Sul do Brasil, seguidos por Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, registraram o maior número de casos, indicando não apenas uma questão de saúde animal, mas também significativas perdas econômicas para o setor.
No contexto da produção de carne bovina, a contaminação ocorre principalmente pela ingestão de alimentos ou água contaminados com ovos do parasita, o que frequentemente resulta da falta de saneamento básico e da prática de defecar ao ar livre, comum em algumas áreas rurais.
Ainda segundo o comunicado, abates clandestinos e a falta de inspeção veterinária adequada têm facilitado a disseminação da zoonose, especialmente em regiões mais pobres. O órgão garante que a cisticercose representa mais que um problema de saúde animal e pública, representa também desafio econômico significativo.
Razões e possíveis soluções
Para combater esse problema, é essencial adotar uma abordagem integrada que envolva várias medidas preventivas. Melhorias nas condições de saneamento são fundamentais para evitar a contaminação do ambiente e dos alimentos.
Campanhas de conscientização devem ser promovidas para educar tanto os trabalhadores rurais quanto a população em geral sobre a importância da higiene pessoal e do uso adequado de instalações sanitárias. Além disso, a gestão eficiente de resíduos humanos é crucial para garantir que as fezes não sejam dispostas em locais acessíveis aos animais.
O controle e monitoramento também desempenham um papel vital na prevenção da cisticercose. Isso inclui realizar exames regulares nos rebanhos e inspeções rigorosas na carne, com o objetivo de detectar e isolar casos antes que os produtos contaminados cheguem ao mercado. Programas de desparasitação regular são recomendados para controlar outros parasitas que possam enfraquecer os animais e torná-los mais suscetíveis a infecções.
O desenvolvimento de uma política de saúde pública robusta, que envolva tanto as comunidades locais quanto as autoridades sanitárias, é necessário para criar infraestruturas de saneamento adequadas e reforçar a fiscalização sanitária das fazendas e do processamento de carne.
Apenas com uma coordenação efetiva entre produtores, autoridades sanitárias e a comunidade será possível reduzir a incidência de cisticercose, protegendo assim a saúde pública e a integridade da cadeia produtiva da carne no Brasil. Além disso, a implementação de uma política de saúde pública robusta é essencial não só para controlar a doença, mas também para abrir novas oportunidades de exportação para mercados internacionais exigentes.
O fortalecimento da fiscalização sanitária e o combate ao abate ilegal são passos fundamentais para reduzir as perdas econômicas associadas à cisticercose, garantindo a qualidade e segurança da carne produzida no Brasil
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